
O roteiro gira em torno do relacionamento de dois irmãos, Setsuko e Seita, em meio ao devastado Japão do final da II Guerra, onde após perderem a mãe em um dos constantes ataques à sua cidade, e com o pai desaparecido, passam a viver com parentes, onde enfrentam problemas de relacionamento com os mesmos levando-os a morar em um abrigo abandonado.
O roteiro não nos priva de cenas chocantes (confesso que é a primeira vez que vejo um filme de animação mostrar um corpo rodeado por vermes). Mesmo se passando em uma guerra, o diretor/roteirista, Isao Takahaka, se mostra inteligente ao colocar tais cenas de forma orgânica em relação à história, nunca se tornando exageradas. Takahaka ainda é elegante ao retratar suas seqüências, como no caso da belíssima elipse em que vemos uma lata enferrujada e posteriormente a vemos nova em folha, representando o retrocesso temporal da história. O diretor ainda conseguiu introduzir na narrativa, simbolismos que enriquecem ainda mais o seu trabalho, como na hora em que vemos Setsuko e Seita preparando-se para dormir no abrigo e levam vários vagalumes para dentro, onde anteriormente reinava a escuridão; sendo a representação da Guerra e de todos os seus horrores, onde a única coisa que ilumina as trevas são pequenos pontos de luz (os vagalumes), representando a rara inocência de Setsuko e Seita, e um sinal de esperança para tempos tão terríveis.
Admirável, também, é a eficaz direção de arte e os figurinos, que acompanham de forma inteligente a degradação psicológica e corporal dos protagonistas, ficando claro ao vermos o abrigo bem cuidado para posteriormente vê-lo acabado e a cidade que após um ataque se assemelha a destroços em meio a um grande deserto. Já os figurinos, são primeiramente vistos alinhados e limpos, tornando-se mais ao final trapos sujos e remendados.
Mas com certeza o melhor do filme é observar duas figuras tão cativantes como Setsuko e Seita, e o relacionamento de amor que existe entre eles. É comovente ver o esforço de Seita em proporcionar bons momentos para a irmã, mesmo em meio a tantas atrocidades, sempre a tratando com inteira compreensão e atenção. O amor entre os dois é retratado com momentos incrivelmente emocionantes pelo roteiro.
O Túmulo dos Vagalumes é um dos dramas mais emocionantes que o cinema já fez. Desde o início até o final é difícil segurar as lágrimas. E é interessante observar que justamente em uma animação podemos ver figuras tão verossímeis e cativantes que nos façam refletir, não apenas após o filme, mas por uma vida toda.